domingo, 17 de abril de 2011

Para Eike, o (seu) carvão é a solução

Comentario do blog:Desenvolvimento Sustentavel ou Insustentavel????


Que Eike Batista não dá ponto sem nó, isso já se sabe, mas ele teria ido longe demais ao usar a tragédia no Japão para vender o seu peixe? Por Hugo Souza


O homem mais rico do Brasil, Eike Batista, não descansa no esforço para alcançar seu maior objetivo: tornar-se o homem mais rico do mundo até 2015. A mais nova tacada de Eike é a criação da BRIX, a primeira bolsa de energia do Brasil, idealizada para arranjar contratos de venda para os projetos do empresário no setor e para alavancar a MPX, braço de energia do grupo EBX que amargou prejuízo de R$ 256 bilhões em 2010.

No lançamento da BRIX, na última terça-feira, 12, Eike desancou a energia nuclear, onde não tem participação, minimizou a importância da energia solar, onde tem investimentos relativamente tímidos, e levantou a bola da energia termelétrica à base de carvão, área na qual tem investimentos bilionários.

“Acredito que o mundo, depois do acidente do Japão, vai trazer o carvão com força total e criar tecnologia para sequestrar o carbono. O acidente nuclear foi de tal ordem que teve consequências insolúveis. Se os alemães estão saindo desse setor, é porque é complicado tentar dominar algo indominável”, disse.

A Eletronuclear reagiu, dizendo que “Eike Batista se junta ao coro daqueles que veem o acidente de Fukushima como uma oportunidade de alavancar negócios, no caso, a geração elétrica a carvão mineral importado de suas minas na Colômbia”.

Há cerca de um ano a MPX anunciou que irá começar já em 2012 a extração de carvão em uma megarreserva recém-descoberta na Colômbia com perspectivas de a produção chegar a 15 milhões de toneladas por ano do famigerado mineral a partir de 2015.

O investimento da MPX para explorar o carvão colombiano nas próximas décadas será de R$ 3,4 bilhões, e a estratégia inclui a construção de um porto e de ferrovias no país vizinho.

O ‘monstro’ e seu duvidoso contraponto

Justificando seu pesado investimento em uma indústria altamente poluente, Eike disse acreditar na possibilidade do desenvolvimento, dentro de 3 a 5 anos, de uma tecnologia capaz de captar o carbono lançado na atmosfera pela queima do carvão em termelétricas, o que de fato é algo que vem tendo progressos dentro da ciência.

Mas o fato é que, se a energia nuclear é um “monstro”, como Eike a classificou, a energia produzida a partir do carvão está longe de ser o santo para lhe fazer o contraponto, mesmo que um dia seja possível zerar os gases poluentes que as termelétricas atiram na atmosfera.

Só na Colômbia, onde Eike vai com tamanha sede ao pote, ou melhor, ao fundo da terra, em busca de milhões de toneladas de carvão para abastecer suas termelétricas, o trabalho em minas subterrâneas já matou 32 pessoas neste ano. Cerca de 100 mineiros morreram no ano passado.

Em artigo publicado recentemente no Wall Street Journal, o jornalista Holman W. Jenkins Jr., membro do conselho editorial da publicação, lembrou que a extração de carvão expõe as pessoas a toxinas como mercúrio e que o carvão mineral contém elementos radioativos como urânio e tório.

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) acaba de propor novos limites para as emissões de poluentes e toxinas pelas minas de carvão do país, o que, segundo o órgão, poderia salvar nada menos do que 17 mil vidas por ano, além de evitar que milhares de pessoas faltem ao trabalho ou lotem as salas de emergência. Muitas minas devem ser fechadas se a proposta vingar.

Em janeiro de 2010 um estudo publicado na revista Science recomendou ao governo norte-americano o fim da concessão de novas licenças para minas de carvão em montanhas. O alerta foi dado após a constatação de que as consequências para a saúde humana e para o meio-ambiente da extração de carvão nas minas no leste do estado do Kentucky, na Virgínia Ocidental e no sudoeste da Virgínia são “generalizadas e irreversíveis”, ou seja, “insolúveis”, que foi como Eike classificou as consequências do desastre japonês.

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