domingo, 8 de agosto de 2010

As lições da crise e os anseios por renovação

O artigo abaixo é do presidente do IOS ( Instituto Observatório Social)e eu encontrei no blog do meu amigo Roger Morales.

Aparecido Donizeti da Silva

O mundo nos últimos duzentos anos passou por modificações rápidas, profundas e radicais. A ascensão do capitalismo e a revolução industrial transformaram e aceleraram o modo de produção. A nascente indústria sugava o sangue, o suor, o sonho e a vida de homens, mulheres e crianças. Todos escravizados à necessidade de produção, de geração de mais valia, de lucro.
O mecanismo perverso de acumulação de riqueza nas garras de poucos à custa de muitos desencadeou revoltas, protestos, lutas e produção teórica. Karl Marx certamente foi quem melhor desnudou esse mecanismo de exploração, influenciando a maioria dos movimentos e lutas da classe trabalhadora.

Mobilizações, revoltas e revoluções fizeram com que o capitalismo, por necessidade de sobrevivência, realizasse reformas e concessões, de modo a disfarçar sua verdadeira e cruel face. Essas reformas resultaram na criação de direitos e conquistas sociais para os trabalhadores, embora a raiz do sistema ainda se baseie na exploração do trabalho. O capitalismo, por sua dinâmica própria, necessita de expansão e de acumulação. Assim criou uma sociedade voltada para o consumo desenfreado, utilizando-se de meios de comunicação eficientes, com a função de fabricar necessidades artificiais e vender essas necessidades.

Para alimentar essa engrenagem, o sistema expandiu radicalmente a industrialização, os meios de transportes e, por fim, produziu grandes inovações tecnológicas, representadas mais emblematicamente pela internet, com a consequente redução de tempo, de espaço e o rompimento das fronteiras entre os países. Vivemos na era da simultaneidade e da instantaneidade, para atender assim o ritmo cada vez mais célere do sistema. Predador por essência, o capitalismo não poupou o meio ambiente. Primeiramente, na Europa e na América do Norte, depois no resto do mundo, florestas inteiras foram e continuam a ser devastadas.

Hoje, enxames de automóveis tomam conta das ruas, chaminés industriais vomitam fumaça. As cidades continuam a inchar, com gente se espremendo, muitas vezes, em habitações precárias, sem saneamento. Enquanto isso, a mecanização predomina nas áreas rurais, substituindo a mão-de-obra humana. A terra fica cada vez mais concentrada, produtos químicos são usados para combater as pragas nas plantações, sem avaliar os efeitos na saúde humana, e alterações genéticas são feitas em legumes, frutas etc. A prioridade é a produção em larga escala, a redução de eventuais perdas e a geração de lucros às grandes corporações desse setor.

Essa é, portanto, a crônica de uma tragédia anunciada. A recente crise econômica global mostrou o que a maioria já sabia, mas que alguns tentavam – e ainda tentam – esconder: que vivemos hoje uma crise mais profunda, civilizacional. O modelo de desenvolvimento econômico resultante do sistema capitalista caminha para um beco sem saída. Já as alternativas socialistas tradicionais acabaram ruindo na década de 80, sem apresentar caminhos diferentes de desenvolvimento. Isso nos obriga a buscar novos rumos urgentemente.

A crise econômica mostrou que o gigantesco império estadunidense não está tão sólido assim. Aprendemos a lição de que tudo o que é sólido desmancha no ar. Há uma nova mentalidade entre as pessoas, um cansaço profundo desse sistema injusto, um anseio por renovação. De minha parte, ainda mantenho uma viva esperança. Governos, sociedade, movimentos sociais e sindicais já colocam em sua pauta a necessidade do "desenvolvimento sustentável", embora existam diferenças de entendimento em relação a isso.

Cabe a nós, militantes sociais, teóricos progressistas, defensores de um mundo justo e humano, fazer a ligação política entre o desenvolvimento social justo e sustentável e uma nova forma de sociedade, que não seja baseada na exploração. Nossa luta é por um desenvolvimento que priorize a vida, todas as formas de vida, e o espírito de solidariedade. Defendemos uma visão mais coletiva da sociedade, ao invés da individualidade exacerbada, do egoísmo, do espírito do salve-se quem puder.

O desenvolvimento econômico sustentável e socialmente justo parte de uma relação solidária com o nosso próximo, com o meio ambiente e com a Terra. Só assim pode-se entender que recursos naturais são limitados, que a natureza não é para ser subjugada e que é preciso respeitar as mais diversas manifestações do ser vivo. Estas reflexões, entretanto, não podem deixar de lado questões candentes e vergonhosas para a humanidade, como os milhões de excluídos, legiões inteiras de seres relegados à fome, à miséria e à falta de perspectiva.

Propomos um desenvolvimento que não seja refém da lógica do mercado. Nós nos pautamos por uma perspectiva de desenvolvimento democrático, com a participação na riqueza social e na distribuição e no controle sobre os recursos, entre os quais, os provenientes da natureza. Estamos diante de uma grande questão política e numa encruzilhada da humanidade. Há chance de mudar. O que hoje existe não é o definitivo. Vamos então lutar por essas mudanças!

Aparecido Donizeti da Silva é Presidente do Instituto Observatório Social (IOS)

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